Congregação dos Religiosos de Nossa Senhora de Sion

A França abalada por uma onda de antissemitismo jamais vista desde a Segunda Guerra Mundial.

Dominique de La Maisonneuve
Publicado em 4 de Março de 2019

Desde o ano 2000 cresce no país uma contestação social que tomou forma a partir de outubro de 2018 no movimento dos “Coletes Amarelos”.

Este movimento, apolítico, nasceu da indignação de pessoas modestas que trabalham, mas tem dificuldades para terminar o mês e, por conseguinte, não suportam mais a diferença insolente entre seu padrão de vida e o dos “ricos”. Essa reinvindicação é absolutamente respeitável: é preciso mais justiça social, de um senso de partilha ainda quando o individualismo é rei.

A história da França nos ensina que as reivindicações se expressam, há muito tempo, nas ruas… E desta maneira, desde 17 de outubro de 2018, todos os sábados, em todo o país, e especialmente em Paris, os “Coletes Amarelos” entram a circulação prejudicando a economia do país.

Como quase sempre acontece, a estas manifestações se juntaram criminosos, vândalos que, semana após semana, se deram o direito a atacar violentamente os bens e  as pessoas, especialmente os judeus, eternos bodes expiatórios em tempos de crise. Isto explica a explosão em 2018 do número de atos antissemitas na França: 541! 74% a mais que em 2017.

Qual é a razão ou as razões para esse ódio contra os judeus?

Antes de tudo, suspeita-se que todos sejam ricos… (uma mulher idosa foi assassinada em seu apartamento com o objetivo de roubar seu dinheiro, mas nada encontraram …)

Banqueiros ou não, eles fazem parte das elites, odiada pela classe média com um ódio nada racional, e guiado pelo ódio à potências do dinheiro.

Os judeus são atacados, às vezes até a morte, simplesmente pelo fato de serem judeus; nem mesmo os mortos são poupados! As profanações de cemitérios o provam; bem como orosto de Simone Veil (que escapou de Auschwitz aos 17 anos), cuja fotografia foi coberta de suásticas.

É preciso mencionar o fato, o qual não diz respeito somente à França, mas ao nosso tempo, do ódio ao Estado de Israel, que na França é inflamado por muçulmanos de extrema esquerda – os salafistas, os, interpretando o Alcorão literalmente, gostariam de retornar às práticas em vigor no tempo do Profeta Maomé. Eles são numerosos na França, que consideram um país conquistado, e de onde eles gostariam de expulsar todos os “estrangeiros”, a começar com os judeus.

Em meio a esta atmosfera sombria, no entanto, aparecem alguns raios de luz:

⇒ A Conferência dos Bispos da França (CEF) apresentou um “apoio incondicional à comunidade judaica na França”;

⇒  Desenvolvendo a posição extremamente firme do primeiro-ministro, expressa por estas palavras: “Devemos garantir que os preconceitos, as ignorâncias e as rejeições sejam combatidas na escola”, o ministro da Educação Nacional declarou: “(visto que) o antissemitismo é um termômetro da nossa sociedade, quanto mais conseguirmos empoderar alunos a ler, escrever, contar, capacitando-os com um senso lógico e uma cultura geral sólida, tanto mais lutamos contra a estupidez, incluindo a estupidez do antissemitismo”;

⇒ Para dizer “não” ao antissemitismo e mostrar sua simpatia para com a Comunidade Judaica, várias manifestações foram realizadas por toda a França (20.000 pessoas em Paris).

Para um começo de reflexão que se impõe a nós em Sion, e não apenas na França, cabe citar um texto do Diretor Pastoral de Estudos Políticos, o referencial católico da Assembleia Nacional, o Padre Stalla-Bourdillon:

O antissemitismo é uma negação de uma dimensão transcendente da humanidade, da qual o povo judeu, em razão de sua história, é como que o símbolo carnal.

 

Ser judeu é, em hebraico, “estar em estado de louvor a Deus”. A identidade judaica faz direta referência à presença invencível e discreta de Deus na criação, na história e em cada um.

 

Duas tentações se apresentam: a) eliminar os judeus para dissolver a lembrança do Criador e Salvador das memórias e das consciências; b) a segunda tentação consiste em querer tomar o lugar do “eleito”. Foi somente por ocasião do Concílio Vaticano II, após séculos de rejeição de suas raízes, que a Igreja Católica expressou uma boa visão da questão.

 

Assim, pois, os surtos de antissemitismo religioso manifestam uma rejeição à verdade transcendente e à bondade de Deus, à sua ação na história, mas também à vontade de substituir seu povo.

 

O antissemitismo só pode ser vencido por um crescimento espiritual que alcance os corações e as estruturas. É aprofundando em si mesmo o mistério de sua própria vida que cada pessoa descobrirá a presença e a expectativa de Deus. Cada um verá o quanto a presença do povo judeu entre as nações exprime melhor do que qualquer outra a presença da promessa divina de conduzir a humanidade em direção à sua unidade e a frágil resposta humana.

 

A presença do povo judeu significa que a vocação da humanidade não é ter medo de Deus, mas amá-Lo. Só se pode obedecê-Lo verdadeiramente acolhendo o outro, povos e pessoas, como uma fonte de profunda bênção para todos. Convite para uma conversão verdadeira.

Onde quer que estejamos no mundo, o antissemitismo está mais ou menos a dormir no coração de cada um. Nossa vocação nos pede uma vigilância infalível para detectar qualquer forma de desprezo, ou pior, a falta de caridade para com os judeus. Ora, o amor, ao longo de toda Revelação, do Antigo ao Novo Testamento, consiste em “estar com”, sejam quais forem as circunstâncias.

Mais ainda, nossa vocação nos pede que conheçamos o povo que está na raíz, sua história, sua cultura, sua tradição, e, portanto, que trabalhemos incansavelmente nesse conhecimento que é, no fim das contas, uma busca de Deus.

Sem dúvida, todas as Irmãs da França quiseram testemunhar sua simpatia pelos judeus que elas conhecem. Sem dúvida, a tutela de nossas escolas incentivará a tomada de consciência deste mal que nos toca em primeiro lugar, e que não pode ser ignorado no sistema educacional.

Parece que esses tristes acontecimentos na França devem despertar a vigilância de toda a Congregação.

Tradução
Ir. Maycon Custódio

Compartilhe com seus amigos

Share on facebook
Share on google
Share on twitter
Share on whatsapp

Congregação dos Religiosos de Nossa Senhora de Sion
portal[arroba]sion.org.br