Método para Bem Rezar o Pai-Nosso e a Ave-Maria

Cristóvão O Silva


Se nos fizermos a seguinte pergunta, “Qual tem sido as orações mais rezadas pela cristandade em todos os tempos e em todos os lugares?”, responderíamos sem hesitar, “o Pai Nosso e a Ave-Maria”. Na Liturgia, a Igreja reza o Pai Nosso solenemente pelo menos 3 vezes ao dia: na oração da manhã, na oração da tarde e na Santa Missa. O Rosário, por sua vez, que é uma das orações mais presente nos lábios do povo de Deus, contém 21 Pai Nossos e 203 Ave-Marias. Se chovesse orações no céu vindas da terra, essa chuva seria, sem dúvida,  de Pai Nossos e Ave-Marias.

Pronuncie em seu coração, e não nos lábios, o Pai Nosso ou a Ave-Maria...
​Este domínio soberano do Pai Nosso e da Ave-Maria no campo da oração não pode ser, de forma alguma, arbitrário ou fruto de mera coincidência. A mão de Deus, ou melhor, o sopro do Espírito Santo, aí deve estar; essa predileção do Céu pelo Pai Nosso e pela Ave-Maria se prova pela Providência Divina, a qual derramou estas duas orações sobre a face da terra como um dilúvio universal de bênção e graça.

Deve haver, portanto, no Pai Nosso e na Ave-Maria algo especial, uma graça oculta, um tesouro escondido no campo, que Deus quer que encontremos.

Para cavar este campo, todavia, é preciso ter o instrumento adequado, por assim dizer, a pá espiritual para escavar o tesouro; e é exatamente este instrumento que aqui pretendemos lhe apresentar.

Antes, porém de apresentar o nosso método simples para a oração do Pai Nosso e da Ave-Maria, vale a pena considerar alguns pontos importantes que envolvem estas duas orações tão sublimes.
A origem do Pai-Nosso é divina. Trata-se de uma oração que foi ensinada por Nosso Senhor Jesus Cristo em pessoa aos apóstolos e aos seus discípulos. Pode-se ler a respeito no Evangelista São Mateus (6, 5-15) e no Evangelista São Lucas (11, 1-13).

A Tradição da Igreja tem considerado o Pai Nosso como a síntese de todo o Evangelho. O Catecismo da Igreja repete a frase de Tertuliano:  “A oração dominical é verdadeiramente o resumo de todo o Evangelho” (Catec. § 2761). Sendo, acima de tudo, uma oração ensinada por Jesus aos seus discípulos como uma resposta ao apelo que estes lhe fizeram, que lhes ensinasse a rezar, o Pai Nosso é uma oração perfeitíssima, a qual nos faz pedir a Deus o que Ele mesmo nos ordena que lhe peçamos.

A primeira parte da Ave-Maria, até “do vosso ventre, Jesus”, também veio do Céu. É a aclamação que o Anjo Gabriel faz a Maria, “Ave Cheia de Graça, o Senhor é contigo” (Lc 1, 28), completada com a saudação que Isabel, “repleta do Espírito Santo”, faz à Mãe de Jesus, “bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre” (Lc 1, 42).

A segunda parte, que invoca a Virgem sob o arque-nobilíssimo título de Mãe de Deus, uma verdade reconhecida no concílio de Éfeso no quinto século, faz-nos pedir-Lhe que rogue “por nós, pecadores, agora, e na hora de nossa morte” - quer dizer, o objetivo principal da Ave-Maria é que a Mãe de Deus interceda pelos cristãos que a ela acorrem. Como é impossível que Jesus recuse um pedido de sua Mãe, fica explicada a eficácia inigualável da Ave-Maria.

Falta-nos agora explicar brevemente qual é o método que faz rezar bem o Pai Nosso e a Ave-Maria, de modo que nós possamos encontrar a graça que Deus aí escondeu, e com isso nos santificar.
É preciso que saibamos rezar como rezava a própria Virgem Maria.

"Maria conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração."
Lc 2, 19

Nosso método consiste em escutar as palavras do Pai Nosso e da Ave-Maria, e fazer com elas, mais ou menos, o que costumamos fazer com as demais palavras da Bíblia quando meditamos pelo método da Lectio Divina.

Em seu lugar habitual de oração, longe das distrações da internet e do mundo, imerso (a) em silêncio e quietude, pronuncie em seu coração, e não nos lábios, o Pai Nosso ou a Ave-Maria, de modo lento, como que saboreando cada palavra, cada imagem que elas, as palavras, possam evocar em você. E deixe que Deus, por estas palavras, conduza o seu coração até Ele.

Escute a Deus que lhe fala por estas mesmas palavras que você usa para se dirigir a Ele. Antes de tudo, temos de ouvir as palavras que Deus nos deu para ser a nossa oração a Ele. Deus deve ficar contente quando vê que as palavras que Ele nos deu para rezarmos tornaram-se parte integrante de nossos corações.

Seguindo este método de oração todos os dias, como um estilo próprio de rezar, o Espírito Santo pode certamente operar maravilhas em nossas vidas: libertar-nos de nossos vícios, iluminar-nos interiormente com dons de sabedoria e ciência, inflamar nosso coração para o amor de Deus e do próximo…

É preciso compreender que estas orações, tão simples em sua formulação, são, na verdade, maiores que o universo, e que elas mesmas, por sua natureza divina, de alguma forma, contêm o próprio universo; e que as palavras destas orações são suficientes para o cultivo de uma vida espiritual sólida e séria, fortalecida em virtudes.